.Eureka! Meditando no segredo da Virgem de Itapiranga descobri uma verdade terrível e inapelável: o Eduardo Braga é o Josemar baré.
Me explico. Vocês lembram do Josemar, aquele lateral direito do Botafogo? Não chegava a ser um craque. Era reserva na seleção do Telê, na Copa do México, em 86. Medíocre. Escalado, acho que contra a Irlanda, fêz um golaço genial, uma bomba primorosa disparada quase do meio da rua, a bola meio de curva enfiada no ângulo. Fêz outro gol lindo contra a Polônia, num chute de efeito, da linha de fundo. Emocionou todo o Brasil. Transformou-se em herói nacional. Mas quem ganhou a copa foi a Argentina. Depois disso, o pobre Josemar nunca mais fez nada. Se não me equivoco, no final da carreira, andou jogando em Manaus. Ficou conhecido como o craque de um só gol. Gênio por um dia.
Pois bem, como eu dizia, o Eduardo Braga - o prefeito de uma só obra - é o Josemar baré. Marcou, na verdade, dois gols. Ou um e meio. No primeiro, concluiu a Ponta Negra, depois de receber a bola do atacante Arthur Neto, que o deixou na cara do gol. Ficou muito bonita. O segundo gol foi o Amarelinho, em Educandos. Maravilha.
O nosso Josemar baré vive, pois, o seu momento de glória. É o darling da mídia, com uma imagem produzidíssima, pose de galã, transmitindo uma felicidade pasteurizada nos outdoors colloridos da Oana. Transformou-se no principal cabo eleitoral do Cabo Pereira, já que descobriu-se que o Amazonino tem alto índice de rejeição.
Recentemente, em sua peregrinação política, o cabo do Cabo foi ao programa da Ilonita Ramos, na rede Bandeirantes e cometeu a seguinte frase delirante:
"Manaus, hoje, é uma cidade que apresenta um padrão de qualidade, que está entre os melhores do Brasil".
Putiteba! É como se o Josemar, só porque fêz dois lindos gols, começasse a arrotar que foi campeão do mundo em 86. O hiperbólico Braga extrapolou. Uma afirmação dessa ofende a inteligência de gregos e curitibanos. Aliás, não foi essa a imagem que os empresários amazonenses mostraram ao presidente FHC, no manifesto a ele entregue durante sua última visita a Manaus.
O documento - lúcido e corajoso - da classe empresarial do Amazonas fala das populações que catam lixo por falta das mínimas condições de sobrevivência, das palafitas amontoadas em rios e igarapés, das invasões, do desemprego crescente, da prostituição e da violência associadas ao narcotráfico e à delinquência social. Alguns setores empresariais começam a olhar a cidade como um espaço comunitário, onde não dá para ser feliz em pequenas ilhas, como quer a trinca Amazonino-Braga-Cabo Pereira.
Basta sair do calçadão da Ponta Negra e visitar os bairros de Manaus.
Os jornais locais registram queixas diárias da população humilde. No Mutirão Amazonino Mendes, os moradores se queixam desesperados da falta de água e de um - unzinho só - telefone comunitário. No Lírio do Vale I e II, a luz vai embora com frequência, o sistema de ônibus é precário, não tem esgoto, a população reclama que os coletores de lixo nunca mais passaram no bairro e revindica a construção de mais salas de aula e de uma quadra esportiva. No São Lázaro, a rede de esgoto está calamitosa, quando chove as ruas e casas ficam alagadas, não existe posto de saúde. Em Nova Jerusalém, o problema é abastecimento de água.. No Bairro da União, os moradores reclamam do sistema de esgoto e de abastecimento de água, que só funciona à noite.
A ladainha se repete em todos os bairros. Os jornais publicam fotos com imagens sombrias: ruas invadidas pelo mato, cobertas de crateras, poças de lama, quase todas alagadas quando chove. A administração Eduardo Braga não aguenta uma boa chuva amazônica.O povo da periferia morre de medo dos bandidos, das galeras e da própria polícia, levando o deputado Hélio Bicudo a afirmar, horrorizado, que "Manaus é a segunda cidade mais violenta do país".
Onde está a qualidade de vida?
Taí! Desafio publicamente a trinca Amazonino-Braga-Cabo Pereira. Se os três tiverem a coragem de chupar um dindin de buriti, feito com água do igarapé "Cai n'água", na divisa do Monte Sião com o Jorge Teixeira, esta coluna financia a compra das latinhas para realizar os exames de fezes com os reconhecidos merdólogos Bambi ou Raimundinho, rei da "Eme". Pode ser também dindin de açai feito lá na quarta etapa do Jorge Teixeira, onde a única água existente é de cacimba. A Abigail, gata da Leonor, chupou um dindin desses e meia hora depois bateu as botas, digo, as patas.
A Ponta Negra e a praia do Amarelinho ficaram muito bonitas, sim senhor. Só um cego não admite. É verdade que o Amarelinho está rachando, com problemas sérios nas pilastras de sustentação. No entanto, a questão crucial não é essa, mas o fato de que não existe em execução um plano diretor, que defina o crescimento de Manaus e escolha prioritariamente onde devem ser aplicados os recursos, que obras devem ser executadas, tudo de acordo com um mínimo de planejamento, para o bem coletivo.
Do contrário, continuaremos passeando pela calçada do Educandos e da Ponta Negra, sem podermos banhar-nos nas águas do Rio Negro. Aliás, faço outro desafio. Se a trinca Braga-Amazonino-Cabo Pereira tiver a coragem de dar um mergulho triplo na praia do Amarelinho, disputando com os urubus, em vôos rasantes, os restos da feira da Panair, os sacos de lixos, e os peixes podres, esta coluna financia a compra dos anti-bióticos e a consulta com o dr. Sardinha.
Sem um plano diretor, vale tudo. Eduardo Braga converteu-se em assessor de promessas do Cabo Pereira. Este, nem precisa criar novas, basta repetir as velhas promessas. O líder comunitário do Bairro Santo Agostinho, Camilo Gomes de Assunção, no dia 24 de abril de 1993, ouviu do Eduardo Braga a promessa de que atenderia as reivindicações da comunidade. "Mas até hoje só temos as promessas" disse Camilo. "Não temos creches, centro social, terminal de ônibus, feira coberta e delegacia de polícia. O posto policial foi desativado e estamos entregues à própria sorte".
Segundo Camilo, na Prefeitura consta que o bairro foi urbanizado e que foram asfaltadas a av. Rio Negro e as ruas Amazonas, Campina Grande e outras. "Tudo isso só está no papel, já que na prática não existe nada".
Dona Edna, moradora no Morro do Bode, Santo Antônio, preocupada com a água fedorenta que desce do cemitério de São Raimundo, declarou a um jornal: "Promessa, eles sabem fazer. Toda vez que é ano de eleição, eles vêm aqui, olham, prometem, e não cumprem".
Agora, me explica, leitor (a), por que os próprios adversários políticos do grupo que está no poder não criticam a administração do Braga? Pode reparar: do Boto ao Serafim, do Nonato à Irinéia, todos eles pisam em ovos, parecendo temer a imagem criada pela Oana. Será que estão com medo de perder votos? Ah! sábias palavras da Virgem de Itapiranga: "Cuidado com o cabo do Cabo!"