CRÔNICAS

O apito do peru: Cabo Pereira e Serafim

Em: 12 de Novembro de 1996 Visualizações: 7627
O apito do peru: Cabo Pereira e Serafim

.Nas duas lutas anteriores, Mike Tyson demoliu com um soco mortal os seus adversários, nocauteando-os nos primeiros segundos. Não teve nenhuma graça. Prá dizer a verdade, não teve nem mesmo luta. Para haver luta são necessários dois boxeadores, um enfrentando o outro, como o que vimos na madrugada de domingo: Tyson e Holyfield. Ai sim! O pau comeu na casa de Noca.

Da mesma forma, só pode haver debate se existirem, pelo menos, dois debatedores. Domingo à noite, no ringue do SBT, só havia um pugilista. De um lado, como nos velhos tempos, o “Tigre da Amazônia”. De outro, um poste. Sim senhor, um poste! Tigre não morde poste. Por isso, não houve debate. Houve frustração dos telespectadores.

- “Eu aposto como consigo eleger até um poste para prefeito de Manaus”. Este desafio, arrogante e prepotente, teria sido feito numa partida de dominó, há meses, pelo governador Amazonino Mendes. Pois não é que ele entregou mesmo um “poste” para a Oana, pagando uma nota preta para que fosse maquiado e transformado em candidato! Por isso, o Cabo Pereira é um defensor irredutível da maquiagem. Ele está sendo fiel ao processo que o construiu, ao útero político que o pariu.

Toda a campanha do Cabo é maquiagem pura. O viadutinho construído na gestão do Eduardo Braga aparece na TV como se fosse a própria “Golden Gate”. Um simples beco asfaltado ganha a dimensão de “obra do século”. Diques construídos na Holanda são pintos diante de um prosaico buraco tapado pela SEMOB. As muralhas da China não chegam aos pés do “Amarelinho”. As pirâmides do Egito não passam de titica de galinha, se comparados ao “monumento” da Ponta Negra. Os dois faraós barés - Egitino Quéops e Ed Chorão Quefrén  - querem agora que  o Cabo Miquerinos dê continuidade às obras piramidais.

Enfim, a Oana fez uma maquiagem hiperbólica, se é que me faço entender pelo Cabo Pereira. Vocês viram como ele ficou com uma cara patética, quando Serafim Corrêa falou de hiperbóle?  Ficou mesmo. Zonzo. Zonzinho. Apalermado, como se tivesse sido atingido por um cruzado do Mike Tyson. Todo mundo viu. Aliás, o Cabo Pereira tem uma enorme dificuldade de organizar o seu - digamos assim - pensamento e de expressar as suas - digamos assim - ideias. Ele mesmo confessou, nas considerações finais, sua impotência cognitiva e discursiva:

- Eu não sei falar, porque não sou político. Sou um homem de ação, um administrador.

Mas - meu Deus - ele estudou Letras na UA pra quê?  Um dos objetivos deste curso, sem o qual não se obtém o diploma, é justamente desenvolver as habilidades argumentativas do aluno. O seu histórico escolar, cuja cópia me foi enviada pelo correio eletrônico, talvez explique as razões de tal deficiência. Nele lemos que o aluno Alfredo Pereira do Nascimento, matrícula nº 813550-4, inscreveu-se na disciplina Língua Portuguesa VI, ministrada pela professora Giralcina, no segundo semestre de 1984. Sua nota final foi 5,3 (cinco vírgula três). Passou raspando. Socorrona, sua colega na época, comenta:

- Eu falava prá ele: estuda, Alfredo! Estuda! Mas ele não ligava. Não tava nem aí.

Por isso, o debate foi pobre, não foi educativo. Um pai de família, do Alvorada, ainda tentou aproveitá-lo para instruir o seu filho. Ele aterrorizou a criança, quando lhe disse: “Se tu não estudar, tu vais ficar assim...” Apontava para a TV, onde o Cabo gaguejava, se confundia todo e invocava o nome de Deus em vão, dizendo que ia governar olhando olho no olho os manauaras/

A população está querendo saber o que cada um dos candidatos pretende fazer com a nossa cidade, se eleito. A debilidade discursiva do Cabo - reconhecida por ele próprio - impediu a divulgação do seu programa. Ele é bom de “olho no olho”, mas é ruim de “boca à orelha”. Como um lutador de boxe frágil, que se agarra ao outro, para evitar a luta, o Cabo desviava o debate sobre Manaus .Confuso, apelou para a baixaria e para o qui-qui-qui, em vez de peitar e questionar as propostas do seu opositor.

 Por que não discutir a concepção de um Plano Diretor para a cidade, em vez de ficar com o disse-me-disse sobre o Arthur Neto ou sobre lugar de nascimento da santa mãe do Serafim? Como é que um candidato a prefeito renuncia ao uso da informática, porque “computador é coisa de rico”? De onde tirou tamanha besteira?  Que forma mais boba de combater o projeto de Serafim de instalar terminais em várias entidades!

Uma pessoa sozinha não pode debater. Precisa de outra. Como trocar ideias com alguém que está se lixando para a cultura?  Serafim anunciou que iria recriar a Secretaria Municipal de Cultura, extinta pela “organização” do Amazonino. Elegante, não deu uma palavra sobre o tênis do Cabo Pereira, aquele que ele teria queimado ao sair de visita aos hanseanianos.

Como? O que o tênis do Cabo Pereira tem a ver com essa questão? Ora, é muito simples, minha cara leitora. O tênis, ao contrário do que foi dito, não foi queimado. Foi doado para o artista plástico Roberto Evangelista, que o levou para a instalação da Bienal de São Paulo, onde está exposto, neste momento, o chulezão do Cabo. Dizem que essa foi a grande contribuição da “organização” do Amazonino para a cultura baré, juntamente com o pagamento milionário feito ao tenor José Carreras.

O debate não existiu. O que aconteceu foi um desastre. Deu pena ver o Cabo Pereira ser massacrado e o telespectador perder uma boa oportunidade para conhecer melhor os problemas de Manaus e as alternativas para solucioná-los. Um debate repetiu o outro. Vendo a fita ainda do primeiro, da TV Rio Negro, quando o Eduardo Braga tentou dar cola para o Cabo - que papelão! -  lembrei-me do peru da Sadia.  A Oana está para o Cabo, assim como a DPZ está para o peru da Sadia. Não sei se você me entende. Me explico.

 Quem é que não se lembra do “peru tecnológico”, lançado pela Sadia no natal de 1974, numa espalhafatosa campanha de publicidade, feita pela DPZ ? O “perú tecnológico” não tinha mistérios, nem glú-glú-gú. Já vinha temperado, com um termômetro enfiado no...peito. Quando estava “no ponto”, disparava um dispositivo e subia a haste do termômetro, informando para a dona de casa que era hora de desligar o forno. No comercial de TV, nesse momento, apitava um “bip”. O apito não existia na realidade. Foi bolado só para o filme, com o objetivo de tornar o produto mais atrativo.

Naquele natal, milhares de donas-de-casa deixaram o assado queimar, porque ficaram esperando um apito enganoso, que, de fato, não existia. Era pura invenção da agência de publicidade. A Oana, que ia mostrar o lobo em pele de cordeiro, apresentou o gato por lebre. Fabricou um candidato, maquiou-o, criando a ilusão de que o candidato podia, de fato, apitar. Mas esqueceu que poste não fala. Muito menos apita. Nesse sentido, o debate foi esclarecedor.

 

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