CRÔNICAS

A borracha socialista e a propaganda camuflada

Em: 02 de Abril de 2006 Visualizações: 11167
A borracha socialista e a propaganda camuflada

Os moradores da cidade de Manaus podem dormir tranqüilos, porque têm alguém lúcido e corajoso para defendê-los: o vereador Fabrício Lima (PSDB, vixe, vixe, vixe Maria). Bravo, destemido e aguerrido, o jovem edil Fabrício possui aquelas cinco qualidades que, na opinião do escritor alemão Bertolt Brecht, são necessárias para quem quer defender a verdade. Vem, leitor (a). Confere comigo uma por uma.

1 - A inteligência de descobrir a verdade.

Essa é a primeira qualidade assinalada por Brecht. Não é qualquer um que recebeu esse dom de Deus. Em Manaus, o vereador Fabrício é um dos raros cérebros capazes de perceber, por exemplo, aquilo que os babacas não viram: que o material escolar distribuído pela Prefeitura constitui crime de campanha eleitoral antecipada. Aliás, antecipadíssima, como aqui demonstraremos.

Acontece que a Secretaria Municipal de Educação distribuiu uma borracha branca onde aparece escrito "Escolar 40". Os ignorantes acharam que aquilo era apenas a marca de uma borracha que vem sendo comprada pela Prefeitura nos últimos quinze anos. No entanto, com sua perspicácia, Fabrício viu o que ninguém viu: 40 é o número do Partido Socialista, do prefeito Serafim. Aqui pra nós, é muita coincidência, né não?.

“As crianças que vão usar a borracha não votam e, além disso, Serafim não é candidato nas próximas eleições” - gemem os idiotas da objetividade. Tolinhos! Bobinhos! Fabrício sabe que o secretário de Educação, José Cyrino, é um visionário e está olhando para o futuro. Essas crianças, que hoje têm oito anos, serão eleitores com 16 anos, quando provavelmente o Sarafa vai se candidatar a governador.

Ora, no ano de 2014, na hora de votar, essas crianças podem até preferir outro candidato, mas a propaganda subliminar terá sido tão eficaz que elas, mesmo sem querer, votarão no Sarafa, porque a lembrança da borracha socialista não se apagará - sem qualquer trocadilho - de suas memórias. Trata-se, sem dúvida, de crime eleitoral.

 2 - A coragem de dizer a verdade.

Pode até existir outro vereador com a mesma lucidez de Fabrício para descobrir a verdade. Mas seguramente não terá a segunda qualidade anunciada por Brecht. É preciso ter - com o perdão da palavra - colhões para dizer a verdade. Essa coragem não falta ao ex-líder estudantil. Não é por acaso que ele foi (e continua sendo) representante de turma do Colégio La Salle.

Fabrício Lima não tem medo de cara feia: “O prefeito está fazendo propaganda pessoal. Existem várias formas de se beneficiar. Em uma eleição, você pode votar no candidato ou na legenda e se ele divulga o número da legenda, é óbvio que isso favorece sua candidatura”. Audacioso, ousado, o nobre edil faz essa denúncia, mesmo correndo o risco de ser processado pelo prefeito por calúnia e difamação.

3 - A arte de tornar a verdade uma arma manejável.

O nobre edil Fabrício, indignado com a propaganda subliminar e subreptícia, exigiu que nas salas de aula das escolas municipais, com mais de quarenta alunos, a numeração pule do número 39 para o 41, com o objetivo de evitar “uma clara referência ao partido do prefeito”.

Corajoso, desassombrado, ele descobriu que as cadeiras servem pra gente se sentar e que a chuva cai de cima pra baixo e botou a boca no trombone: “Eu recebi várias borrachas que estão sendo distribuídas em todas as escolas municipais com o número 40 do prefeito Serafim Corrêa e isso é inadmissível”.Macho pacas!

Para que a verdade possa derrotar a mentira, o nobre edil procurou divulgá-la nos jornais de Manaus. Lamentavelmente, a imprensa local, toda ela vendida, além de ignorar a acusação, debochou, com exceção do “novo coração pulsando na Cidade”. Esse jornal, de grande credibilidade, acolheu a denúncia e publicou uma foto de meia página do combativo vereador com uma borracha na mão. Ele aparece fingindo cara de babaca para enganar os trouxas.

4 - Discernimento para escolher os que tornarão a verdade eficaz.

Fabrício foi muito vivo. Entrou com uma representação no Ministério Público Estadual (MPE) contra o prefeito Serafim Corrêa e o secretário de Educação José Dantas Cyrino Junior, porque essa é a única instância que pode ferrar os dois membros da Quadrilha da Borracha Socialista.

O aguerrido e combativo edil poderia, por exemplo, ter representado contra o PDT, já que entre o material distribuído pela Secretaria de Educação estava o pincel atômico número 12, número do PDT. Mas não. Preferiu concentrar fogo sobre o inimigo principal, seguindo os conselhos do camarada Mao Tse Tung, tornando sua verdade mais eficaz.

5 - Habilidade para difundir a verdade.

A quinta e última qualidade indicada por Bertolt Brecht também faz parte das capacidades do nobre vereador Fabrício Lima. Em sua representação ao Ministério Público Estadual, Fabrício argumenta que o prefeito, com a borracha socialista, está desrespeitando os artigos 36 e 37 da Constituição Federal que permitem a propaganda eleitoral somente “após o dia 5 de julho do ano da eleição”.

Com isso, o vereador Lima demonstra habilidade em difundir a verdade, porque todo mundo se impressiona quando alguém cita artigos da lei ou fala em latim. Basta neguinho dizer que o artigo 245, parágrafo ‘d’ do Código de Processo Penal condena isso ou aquilo, para que isso ou aquilo seja condenado na cabeça das pessoas.

O secretário de Educação, José Cyrino, que é advogado, vai processar Fabrício Lima por ser “Lesus, babacoides et devotus Santae Etelvinae”, um crime inafiançável, sobretudo se for tipificado, como é o caso, em latim. Em defesa do nobre edil, proponho que os dois vereadores que me representam, Praciano e Ricardo, ambos do PT, apresentem projeto de lei mudando o nome do Igarapé do Quarenta para Igarapé do vereador Fabrício Lima. Convenhamos: é uma justa homenagem.


P.S.1 - O TRE/AM está armando um “Barco-Recreio da Alegria”. Te cuida, Pontilhão, porque temos um dossiê e vamos contar tudo o que sabemos. Aguardem.

P.S.2 - Tomando banho, fiz o teste da Cássia Kiss e encontrei um caroço debaixo do meu peito. Cresceu como uma bola de ping-pong. Tremi nas bases: “Câncer, meu Deus. Tou frito”. De passagem por Manaus, apavorado, procurei na Clínica Santo Alberto a doutora Greiciane Nakamura. “Cisto sebáceo”, ela disse, desmoralizando meu câncer. Para mim, “sebáceo” soou como uma ofensa, tipo “chulé ou caspa”. Ela cortou, tirou, deu três pontos. Fiquei bonzinho. Agradeço. Só acho que ela foi rigorosa demais: “Pode ir trabalhar”. Bem que eu queria cinco dias de repouso absoluto. Afinal não era um câncer, mas foi um quase-câncer. Merecia mais consideração, viu Dile? (Quem falou foi o Piriri).

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2 Comentário(s)

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Renata Póvoa Curado comentou:
13/02/2017
Mt bom prof!!!!! A delicada ironia da comédia ????????????????????????????????????????????????
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Maria Di Andrea Hagge (VIA fb) comentou:
13/02/2017
sabia q ainda tem dessas no mercado, sabia?
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