Recebo um fax de Brasília. Choveu Vicente Limongi outra vez. De novo, meu São Pedro? Quem vai pagar a conta uma vez mais somos nós, os contribuintes, porque o fax foi enviado pelo telefone do Senado. Já que pagamos, vamos nos usufruir, divertindo-nos um pouco. Eis a íntegra da carta:
Caro Bessa,
Você responde-me com um amontoado de tolices. Como um prato rachado com restos de comida.
Sugiro que mudes de remédio. Andas muito amargo e rabugento (sic). Certamente porque, lamentavelmente, já envenenou teu (sic) sangue com a má fé dos levianos e dos desinformados. Mas, com paciência, li tua coluna de 16 de agosto. Um faniquito ali, uma agressão acolá. Uma tirada de mau gosto adiante. Ridículo. Próprio de xiita fracassado.
Como declara-te (sic) fracassado, vencido e humilhado, fica ruim esgrimir com você. Que dirão teus milhares de alunos? Não tripudio em derrotados. Tenho mais o que fazer. Meu tempo vale ouro. Sou profissional caro. Não sou amador nem aspirante a palhaço.
Mas é preciso que saibas, de uma vez por todas, o seguinte, já que mostras ter uma boca fácil” como Carlos Lacerda definiu José Maria Aklmin, porque era um falastrão, um canastrão, um cretino:
- Não me arrependo de nada. Meu passado é limpo como o nascer do sol; meu presente é magnífico como um sorriso de uma criança e, meu futuro, será esplendoroso, porque tenho competência em tudo que faço. Mereço.
- Não abandono os amigos. Com muita honra sou amigo de Maluf e de Collor. Sou amigo, sobretudo, nas horas difíceis. Isto chama-se caráter. Ah, como dói na alma dos beócios!
- Luto por minhas ideias. Boas ou más.
- Faço questão de ser porta voz das boas causas. Não abro mão delas. Enquanto Deus assim permitir.
- Você não é mais digno do que eu ou de (sic) ninguém, apenas porque foi preso e exilado.
- Você nem qualquer outro sabujo petista tem autoridade para atirar-me a primeira pedra. Prefiro ser veemente do que hipócrita ou recalcado.
- As maledicências de mentecaptos não me causam nenhum desgaste. Quero que vivam o bastante para aplaudir meus êxitos.
- Use (sic), como quiser, teu (sic) verbo encher. Mas, no fundo, teu (sic) verbo predileto é o invejar.
Com um beijo do tipo Maluf em Amin.
Vicente Limongi Netto, jornalista profissional, assessor do Senado, sindicalizado no Amazonas e em Brasília, sócio militante da Associação Brasileira de Imprensa e repórter da Tribuna da Imprensa.
Brasília, 17 de agosto de 1995.
No fax anterior, Limongi, o assessor, havia escrito: “Eu e o Gilberto Miranda rimos muito do teu ‘Mirandinha vais às compras’. Estamos rindo até agora. Há! Há! Há!”
Os dois – parece – pararam de rir, depois da crônica “Caríssimo Limongi”. Eles perderam o humor. Estão zangados até agora: Grrrr! Grrrr! Grrr! A carta hoje publicada mudou de tom, revelando involuntariamente sobre o seu autor e sobre o seu patrão muito mais do que eu poderia fazê-lo. Ou seja, Limongi se entregou de bandeja e deixou peladão, diante de todos nós, o senador que ele assessora. Espia só, leitor (a).
Qual é o tema da discussão? O comportamento público de um senador. É o que interessa. Por isso, eu havia perguntado como é que Gilberto Miranda conseguiu acumular a fortuna que tem? Quantos empregados são pagos por suas empresas e qual o montante de seus salários?
A tarefa de um assessor de imprensa é a de informar a opinião pública sobre tais questões. Mas Limongi, o assessor, em vez de responder com dados substantivos, brinda-me com adjetivos que em nada contribuem para esclarecer a situação, tais como: mentecapto, beócio, falastrão, canastrão, cretino, sabujo petista. Éguate! Eu, einh, Rosa!
Está bem. Não vou discutir. Supunhetemos que sou tudo isto que o Limongi afirma. E daí? O meu suposto cretinismo não anula o fato de que Gilberto Miranda, seu patrão, enriqueceu rapidamente com os incentivos fiscais, pagando salários de fome a um número reduzido de empregados. That’s the question. O leitor amazonense não está interessado em mim, mas no comportamento público de um indivíduo, um forasteiro, que sem nenhum voto o representa no Senado Federal.
Escrevi que o patrimônio de Gilberto Miranda, acumulado de forma escusa, está todo ele fora do Amazonas. Limongi cala, uma vez mais e contra-argumenta, ou melhor, argumenta contra ele mesmo, afirmando com imagens de gosto duvidoso que o seu presente é “magnífico” e seu futuro “esplendoroso”. Parabéns. E daí?
O leitor está vagando e andando sobre a própria imagem que Limongi fabrica de sua vida privada. O interesse maior é na figura do senador Miranda. O que é que tem a ver os cós com as calças? O que é que a tolice tem a ver com o prato rachado?
Afirmei em crônica anterior: os empresários de verdade que geram empregos e trabalham no Amazonas morrem de vergonha do Gilberto Miranda. O assessor Limongi,m em vez de fedender o seu patrão, responde: sou amigo de Maluf, do Collor e coisa e loisa. Afinal, Limongi é pago para assessorar Gilberto Miranda ou para se autovangloriar com palavras ocas? Ele acabou deixando Miranda nuzão na frente de toda a galera. Fez um gol contra. Pior ainda: com a mão.
Com a mão sim, porque um jornalista profissional tem a obrigação de usar a norma padrão da língua portuguesa com um pouco mais de cuidado. No conteúdo, foi o que acabamos de ver. Na forma, Limongi atropela pronomes e verbos e trocas as letras, mostrando que a gramática não é o seu forte.
Pessoalmente, estou me lixando para essa questão formal, que considero uma bobagem. Costumo infringir deliberadamente as normas. No entanto, é grave quando justamente elas são ignoradas por aqueles que defendem o uso da norma padrão e humilham os que empregam outras variedades do português.
Rabugento não deixa de ser o que é porque se grafa “rabujento”. Se estou escrevendo uma carta particular, não tem a menor importância. Mas se escrevo um texto dentro do Senado para ser publicado, devo no mínimo consultar o dicionário, o pai dos burros.
Mas onde Limongi se atrapalha mesmo e dá vexame é no uso alternado dos pronomes de tratamento e das pessoas do verbo. Ele não sabe tratar as pessoas. Faz uma enorme confusão entre o uso do “tu” e do “você”, o que dificulta, às vezes, a compreensão do que ele quer dizer. Por exemplo, não sabemos quem é o sujeito da frase: “já envenenou teu sangue”. Foi o teu sangue que já envenenou? Ou tu envenenaste teu sangue? Ou foi você?
O “tu” e o “você” designam a pessoa com quem se fala, mas enquanto o primeiro pede o verbo e a marca do possessivo na segunda pessoa, o último exige a terceira pessoa. Limongi ignora a norma. E no pronome, Limongi, não vai nada não? Será que Limongi entrou no Senado através de concurso público?
Depois de confundir a vida pública com a privada e de fazer uma salada pronominal, Limongi ainda acha que o mundo inteiro tem inveja dele. Inveja eu tenho do poeta Luis Bacellar, do contista Erasmo Linhares, que tocam divinamente bem, um a sua “frauta de barro”, e o outro a “charamela”. Outro dia li um poema do Alcides Werk sobre o bairro do Alvorada e morri de santa inveja.
Se fosse para baixar o nível, eu diria: Limongi, vai te catar, vai catar coquinho. Mas prefiro dar um conselho: mano velho, aprende a tratar as pessoas, coloca tua pena mesmo estropiada a serviço dos que não têm voz, não fica defendendo Mirandinha, Maluf, Collor que fizeram fortuna com dinheiro público.
P.S. – Parabéns à juíza Maria Lúcia Gomes de Souza que rejeitou a representação contra o jornalista Sérgio Bartholo, que apurou corretamente a nomeação dos parentes do juiz Antônio Carlos Marinho Bezerra, presidente do TRT, como funcionários daquele Tribunal.
Ver tb.
1) Caríssimo Limongi - http://www.taquiprati.com.br/cronica/495-carissimo-limongi
2) Mirandinha vai às compras - http://www.taquiprati.com.br/cronica/497-mirandinha-vai-as-compras
3) Goethe e Limongi - O Grosse Hintern - http://www.taquiprati.com.br/cronica/369-goethe-e-limongi-o-grosse-hintern