.Dois crimes ocorridos no mesmo dia, domingo, véspera de São João, estão repercutindo até hoje, carregados de mistérios. Um aconteceu em Alagoas: a morte de PC Farias e sua namorada. O outro, em Manaus, envolveu o CP, isto é o Cabo Pereira e seus correligionários com uma blasfêmia que clama aos céus e pede a Deus vingança.
- Quem é o responsável por estes crimes? Por que foram cometidos?
Estas duas perguntas que intrigam a polícia no assassinato de PC são as mesmas que a opinião pública amazonense se faz no caso CP, querendo saber porque a convenção do PPB ( vixe, vixe!) escolheu Alfredo Nascimento – o Cabo Pereira – como candidato a prefeito de Manaus. O que se não é um crime contemplado no Código Penal, não deixa de ser uma blasfêmia e uma grande maldade contra Manaus e contra o próprio candidato.
Por que escolher alguém inexpressivo e desenraizado, sem qualquer densidade eleitoral? Alfredo Nascimento está de bubuia na vida cultural e política do Amazonas. Despersonalizado, flutua daqui pra li, levado pela corrente El Niño. Sua língua nunca foi anestesiada pelo jambu, jamais mergulhou um palito numa cuia para espetar um camarão. Aliás, quem com ele convive diz que o Cabo Pereira tem nojo de tacacá, que chama depreciativamente de “gororoba”.
A sabedoria popular ensina:
- Bebeu água do rio Negro, comeu jaraqui, não sai mais daqui.
Desta forma, o povo acolhe com generosidade aquele que, vindo de fora, trata com respeito os valores locais. Não é o caso do Cabo Pereira, nascido em Martins (RN) com curso de controlador de tráfego aéreo na Escola da Aeronáutica em Guaratinguetá (SP). Ele não possui qualquer ligação histórica, cultura, afetiva ou identitária com a cidade que pretende governar. Seus olhos nunca contemplaram, com emoção, o pôr-do-sol na Baixa da Égua. Seus dentes nunca rasgaram estradas em caroço de tucumã.
Meu caboco
Como então explicar a escolha de alguém que despreza os valores cabocais e debocha deles? Alguns observadores juram que Pereira é uma árvore frutífera que, em vez de pera, pode dar laranja. Outros pensam... ora pinoia, não interessa o que os outros pensam. O importante é localizar a origem do “crime”: quem indicou o nome cítrico do Cabo Pereira?
Durante a convenção do PPB (vixe, vixe) na semana passada, o governador Amazonino Mendes tirou o loló da seringa e lavou as mãos. Sóbrio, sem sinal aparente de haver ingerido bebida alcóolica, Amazonino declarou publicamente, com um ar angelical, esperando que a gente acreditasse em suas palavras:
- O nome de Alfredo Nascimento me foi inspirado por Deus.
É. Foi isso mesmo. Deus. Ele disse DEUS na maior cara-de-pau, fingindo intimidade, como se Deus fosse seu parceiro no dominó, em quem ele pode dar tapinhas nas costas e chamar de “meu caboco. Está nos jornais. Deus. Deusão. Papai do Céu, o Todo Poderoso, o Tupã, que soprou no ouvido do Amazonino: “O candidato é o Cabo Pereira”. Uma blasfêmia. Quando li, desconfiei. De onde o Amazonino tirou tal intimidade com Deus? Recentemente, o governador, querendo emplacar o superintendente da Suframa, jurou que o ministro José Serra era seu amigo. Não conseguiu. Se nem com o Serra ele tem a intimidade que afeta, quanto mais com Deus! Por isso decidi checar a informação.
Com a ajuda dos assessores de imprensa – Lucas, Marcos, Mateus e João – procurei os Arquivos do Céu que guarda os livros de orações, de Confissões e de Comunhões, para apurar o grau de intimidade do Amazonino com o Criador do Universo.
O Livro de Orações registra diariamente os nomes de todas as pessoas da terra que se comunicam com o Céu. Nele aparece com muita frequência, entre outros, os nomes de dona Elisa, da Glória Nogueira e da Maria do Carmo Feitosa (o que foi, aliás, a salvação do Leonel), Procuramos nas letras “A” e “M” e não encontramos qualquer registro. Caso não exista um Livro Caixa-2 de Orações, significa que nem Amazonino, nem Mendes, rezaram. Quem reza se salva. Quem não reza se condena. Amazonino, pois, está ferrado.
Conversa com Deus
O Livros de Confissões e o de Comunhões registram uma única vez, cada um, o nome MENDES, Amazonino, apenas no início dos anos 1950, quando vindo de Eirunepé, com o cabelo cortado há quase meio século, ele fez a sua primeira (e ao mesmo tempo última) comunhão, durante o Congresso Eucarístico realizado em Manaus. Depois disso, nunca mais recebeu a Eucaristia. Confissão? Nem pensar! A tonelada de pecados esmagaria qualquer padre.
Ficou, portanto, documentalmente provado que Amazonino não priva da amizade de Deus, não conversa com Ele, nunca foi convidado para visitar Sua Casa. Assim, dificilmente a voz divina lhe indicaria o nome do Cabo Pereira. Para tirar qualquer dúvida, decidi entrevistar o próprio Deus. Aliás, essa não é a primeira vez. Em outubro de 1993, conseguimos uma entrevista exclusiva com o Criador para checar se o deputado João Alves, um dos anões do Congresso, havia acertado mais de 200 vezes na Sena “graças à ajuda de Deus”, como ele declarou.
Segui a receita de Gilberto Gil em “Se eu quiser falar com Deus”. Fui sozinho, apaguei a luz, afrouxei os nós dos sapatos, da gravata, dos desejos, dos receios e comi a mandioca que o capiroto ralou. Deus estava ocupadíssimo, alertando os porteiros do céu contra o suborno proposto por um careca bigodudo que tentava sair do inferno para entrar no paraíso, em troca de trazer todas suas contas dos paraísos fiscais para o verdadeiro paraíso. Devido a tanto trabalho, Deus aceitou responder uma única pergunta que lhe fiz à queima-roupa:
- Os leitores do Taquiprati estão querendo saber se Vossa Divindade indicou mesmo o nome do Cabo Pereira para ser candidato a prefeito de Manaus. É verdade que o governador Amazonino ouviu mesmo dos lábios divinos tal sugestão?
- Aquele que tem ouvidos, que ouça. Eis porque lhe respondo em parábolas, para que vendo, não vejam e ouvindo, não ouçam, nem compreendam. Assim se cumpre para eles o que foi dito pelo profeta Isaías: ouvireis com os vossos ouvidos e não entendereis, olhareis com os vossos olhos e não vereis.
Deus disse isso, enigmático, e foi embora seguido de um querubim e de um Serafim. Seu assessor de imprensa, Mateus, traduziu fazendo uma revelação chocante, que vai cair como uma bomba entre os leitores desta coluna. Para surpresa de todos, Ele confirmou:
- O nome do Cabo Pereira foi mesmo inspiração divina. Embora Deus nem conheça esse tal de Amazonino, a quem nunca viu mais gordo ou mais pobre, ele soprou o nome do Cabo nos ouvidos do Amazonino que “ouviu e não entendeu”.
- Não é possível, Mateus. Eu não acredito. Por que Deus faria uma maldade dessas com Manaus – perguntei.
O outro assessor, Lucas, que estava ao seu lado, tomou a palavra. Explicou que o Todo Poderoso estava muito zangado com a violência cometida contra o povo de Deus por um grupo de extermínio, formado por policiais e ex-policiais, com mais de 50 execuções. A ira divina se dirigiu especialmente contra Amazonino e seu Secretário de Segurança, Klinger Costa, que agrediu o padre Humberto Guidotti, um de seus amados representantes no Amazonas, que denunciou os crimes. Deus tem anotado todas as mortes ocorridas nos hospitais de Manaus por falta de equipamentos e de médicos, quando o Cabo Pereira era o secretário de Saúde. Os gastos de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) para que o tenor José Carreras se apresentasse no Teatro Amazonas, o desvio e má aplicação de verbas, nada escapou aos olhos divinos.
- Não entendo. Com todo respeito, se Ele sabe de todas essas falcatruas e violências, porque então apoiou o Cabo Pereira? - perguntei
- Epa! Pera lá! Deus não apoiou – disse energicamente Mateus, o porta-voz da Divindade. – Ele apenas o indicou como o candidato mais adequado para a realização dos desígnios divinos.
- Por que, meu Deus, por que? - indaguei
- Qualquer candidato governista apanharia, mas não levaria surra eleitoral tão grande quanto a que será dada no Cabo Pereira. Deus, juiz íntegro e perpetuamente justiceiro, quer esmagar, desta forma, o braço do pecador perverso.
- Uma última pergunta, só por curiosidade: Deus também inspirou o nome d vice, o Omar Aziz/
- Não. Esse daí foi indicação do capiroto mesmo.
OBS: Publicada no Jornal do Norte com o título Deus-nos-Acuda!