A população de Manaus não dormirá nos próximos dias aguardando, ansiosamente, o depoimento, quinta-feira, às 9:00 horas, do presidente da Câmara Municipal (CMM), Marco Antônio Chico Preto. Ele vai contar à Comissão de Investigação como o vereador Raimundo Sabino Castelo Branco Maués (PFL - vixe, vixe) encheu de porrada a sua própria mulher, Vera Lúcia, usando uma mangueira de jardim como arma. Isto logo após a promulgação pelo presidente Lula da Lei Maria da Penha, de 7 de agosto de 2006.
Não se trata de um caso isolado. Fatos como esse são, lamentavelmente, muito comuns, conforme indicam as estatísticas. A presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (CMDM), Socorro Papoula, informa que em Manaus, nos primeiros sete meses desse ano, quase seis mil mulheres, vítimas de violência, denunciaram o parceiro à polícia, mas muitas retiraram a queixa por medo, pressão familiar ou outros motivos.
Foi, parece, o que aconteceu, no início de julho. O presidente da Câmara, Chico Preto, recebeu vários telefonemas – segundo ele, de dona Vera - contando que estava sendo surrada e pedindo socorro. Ele foi lá, conferiu, tirou fotos da vítima com o corpo cheio de hematomas. Diante dos fatos e das fotos, o Conselho da Mulher requereu à Câmara que fosse cassado o mandato do vereador Sabino, por quebra de decoro parlamentar.
A Comissão de Investigação abriu inquérito. Ouviu Sabino, que negou os telefonemas e a surra, jurando que sua mulher estava ferida por causa de um acidente de carro e que as ligações para Chico Preto foram feitas por uma empregada doméstica. Posteriormente, Dona Vera confirmou a versão do marido.Ambos foram apoiados por Amazonino Mendes.
Sigilo telefônico
Afinal, qual é a verdade? Houve espancamento? Quem ligou para o presidente da CMM: dona Vera ou sua empregada? Quem é essa empregada? O que ela queria? As respostas estão no sigilo telefônico de Chico Preto, que será quebrado na próxima quinta-feira. Taquiprati, que gosta de uma fofoca, teve acesso às gravações das conversas e hoje conta em primeira mão aos leitores do Diário do Amazonas os segredos dessa novela.
As gravações provam que o depoimento de Sabino contém, pelo menos, uma verdade. A autora das sete ligações é, efetivamente, uma empregada. Trata-se de uma governanta dos Castelo Branco, contratada por indicação do então governador Amazonino Mendes (PFL, vixe, vixe!), que convenceu Sabino, seu principal cabo eleitoral, de que era chique ter governanta. Sua biografia nos foi enviada pela repórter Charlotte Ariranha.
A governanta, chamada Jane Ayres, é de nacionalidade inglesa. Nasceu no condado de Kouari-on-avon, onde viveu num orfanato depois da morte de seus pais. Quando completou 18 anos, Jane viajou para o ducado de Many Kouré, em Yorkshire e, de lá, migrou para Manaus, indo trabalhar na casa do governador. Lá, na Mansão do Tarumã, ela descobriu que Amazonino não pagava IPTU e deu a dica do checho para a oposição.
Jane tem, portanto, tradição oposicionista. No dia 3 de julho de 2006, à tarde, a governanta estava cuidando de suas tarefas cansativas na mansão dos Castelo Branco. Seu pensamento vagava pela charneca de Kouari-on-avon, quando ouviu gritos. Correu para ver o que era. Deparou-se com uma cena dantesca. Sabino surrava dona Vera com uma mangueira.
Pálida, tremendo de medo, a primeira idéia que Jane teve foi telefonar para o presidente da Câmara Municipal de Manaus. O que foi que a governanta de Raimundo Sabino falou para Chico Preto e qual foi a resposta que ouviu? A gravação das conversas foi transcrita pela repórter Charlotte Ariranha.
As gravações
Pesquisa realizada pelo Dataquiprati mostra que 5% dos leitores dessa coluna são monoglotas, como Ronaldo Tiradentes. Em respeito a essa minoria, vamos apresentar aqui um resumo em português, deixando em inglês só o início e o final do principal telefonema.
Jane - Hello, mister Black Cisco? Here is Jane.
Chico Preto – Oh, yeah! You Jane, mim Tarzan!
Jane – Mister Sabino is spanking his wife.
Chico Preto – Oh yeah!
Jane –. She escapes to the street and he follows her.
Chico Preto – Oh, yeah!
Jane - She cries very much.
Chico Preto – Oh, yeah!
Jane - The thing is ugly.
Chico Preto – Oh, yeah!
Dessa forma, a governanta Jane Ayres ia transmitindo passo a passo a surra, ao vivo e em direto, irradiando cada lance como se fosse uma partida de futebol. A autenticidade da gravação foi reconhecida por peritos da UNICAMP, através do sotaque inconfundível de Chico Preto, o Black Cisco, que aprendeu inglês ouvindo os beatles. Ele gastou todo seu inglês, falando 42 vezes: Oh, yeah!.
A última frase de Jane confirma, de forma ineqüívoca, que Sabino enfiou mesmo a porrada em sua mulher. A governanta de Kouari-on-Avon gritou desesperada: “Mister Black Cisco, the book is on the table and the cow goes to the swamp”. Para meio entendedor, boas palavras bastam. Chico Preto sentiu a gravidade da situação, respondeu seu último – Oh yeah!, pegou o carro e, como um bom gentleman, solidário, foi socorrer a vítima.
Enganando o eleitor
Na sua conversa com Black Cisco, a governanta Jane faz referência três vezes a um sócio e guru de Raimundo Sabino, um tal de Big Black, que prestou total solidariedade ao agressor. Esse Big Black pode ser, ao que tudo indica, o ex-governador Amazonino Mendes.
Big Black governou o Estado durante doze anos e foi prefeito de Manaus durante seis anos. Não resolveu o problema de abastecimento de água, agravou mais a situação, vendendo a Cosama aos franceses, cujo dinheiro da privatização ninguém nunca soube como foi empregado. Nas suas duas últimas gestões, os professores não tiveram qualquer reajuste salarial. E agora vem dizer que vai resolver o problema da água e da educação. Quem é enganado uma vez, é ingênuo. Duas vezes, é idiota.
Aquela frase que todos nós ouvimos na infância – “homem que bate em mulher é covarde” – parece que está impregnada dentro do coração do eleitor amazonense. Acontece que depois da agressão, Sabino, candidato a deputado federal, vem caindo nas pesquisas, juntamente com seu guru Big Black, candidato a governador.
Nessa quinta-feira, quando Chico Preto – o Black Cisco – entregar ao presidente da Comissão, Braz Silva (PFL – vixe!) os comprovantes da violência, a opinião pública amazonense vai, finalmente, conhecer a verdade. Se até a Bel lesa descobriu ontem o romance do Estevão com a Leona, como é que a opinião pública vai permanecer mergulhada na escuridão e na ignorância?
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