CRÔNICAS

A saúde, a fome e o CCFD

Em: 16 de Junho de 1995 Visualizações: 3239
A saúde, a fome e o CCFD

(De Paris) – A questão indígena da Amazônia estava sendo discutida no Colóquio Internacional realizado na Universidade Albert Ludwig de Freiburg, nesta quarta (14), enquanto do outro lado do oceano, em Manaus, o Comitê Católico contra a Fome e pelo Desenvolvimento (CCFD) promovia na Universidade do Amazonas (UA) um debate necessário para a saúde dos povos indígenas.

A funcionária do CCFD responsável pelos projetos da América do Sul, Marilza de Mello Foucher, viajou de Paris, onde reside, para Manaus, onde viveu, para avaliar o projeto Criação de uma Rede Autônoma de Saúde Indígena (RASI) que vem funcionando desde 1993, com a parceria da UA, da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), da Funai e da Fundação Nacional da Saúde (FUNASA).

O objetivo deste projeto é promover a participação ativa dos índios na instalação de um sistema de saúde adequado às suas necessidades e especificidades socioculturais, formando agentes indígenas de saúde com o apoio da UA. Trata-se de fomentar um diálogo entre os saberes milenares da etno-medicina e os conhecimentos produzidos pelas ciências médicas, que não são excludentes, mas complementares. São 15 mil índios Tukano, Maku, Yanomami e outros de línguas Aruak que poderão ser beneficiados pela RASI.

O CCFD apoia projetos na América do Sul, que tenham como finalidade a organização dos movimentos sociais e o exercício da cidadania ativa. Na Amazônia, o Comitê definiu como eixo prioritário favorecer as organizações camponesas e indígenas, em programas com dimensão ecológica.

Por entender que o combate à fome passa obrigatoriamente pelo apoio à pequena agricultura familiar, Marilza Foucher acompanha projetos no Acre, como a criação de uma casa de farinha, em pleno funcionamento, que beneficia aproximadamente 18 mil crianças.

Mas não é a farinha trivial de mandioca. Trata-se de uma farinha multimistura à base de folha de mandioca, jerimum, farelo de pupunha, batata doce, arroz e diversos grãos, mesclando diferentes produtos de alto valor nutritivo e que eram, muitos deles, jogados no lixo.

Segundo Marilza, que viveu em Boca do Acre e conhece de perto os problemas da região, a farinha multimistura tem permitido uma economia de até 50% no orçamento alimentar das famílias locais. A tecnologia usada é simples, sua produção é fácil. Projetos como esse deveriam ser estimulados para que se possa lutar com mais eficácia contra a fome, a desnutrição e a mortalidade infantil.  

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