CRÔNICAS

Tucupi no dendê: Jader e ACM balançam a roseira

Em: 13 de Maio de 2001 Visualizações: 8142
Tucupi no dendê: Jader e ACM balançam a roseira

Para onde eles apontam o dedo? O Brasil inteiro viu: o ex-presidente do Senado, Toninho Malvadeza (PFL - viche! viche!) acusou seu sucessor, Jader Barbalho (PMDB - Cruz Credo!), de ladrão. "Ladrão é Vossa Excelência", respondeu Barbalho. Ambos exibiram provas convincentes. Quarenta dias depois, ameaçados de cassação, as duas 'excelências' assinaram um pacto de não-agressão - um grande acordo - para salvar os respectivos mandatos e impedir a criação da CPI da Corrupção. Fica o dito pelo não-dito.

Como explicar o que está acontecendo? Te proponho, leitor (a), para dar inteligibilidade ao caso, usarmos um método criado pelo médico particular de Adolf Hitler, doutor Théo Morell. Ele sustentava uma hipótese muito simples: o comportamento de qualquer pessoa está determinado pelo tipo de comida que ela consome. Uma sábia do bairro de Aparecida, dona Elisa, pensava da mesma forma, proclamando com convicção:

- Meu filho, o homem é aquilo que ele come.

Será? 

O MÉTODO MORELL

O doutor alemão, Théo Morell, um gorducho ambicioso, que enriqueceu roubando os bens dos judeus, expôs o método em seu diário íntimo, onde anotava tudo aquilo que Hitler - nomeado como 'Paciente A' - comia. O diário foi encontrado há vinte anos pelo historiador alemão Ottmar Katz, que escreveu uma biografia detalhada do médico, publicada em 1982, na Alemanha, pela Editora Hestia, com o título de 'Morell, Hitlers Leibartzt'.

Através do diário, ficamos sabendo que Hitler adorava misturar geleia de fruta com carne salgada de porco. Com regularidade, tomava sopa de cerveja ('heisse Biersuppe') com gema de ovo e salsicha ao molho doce. Jantava almôndegas de porco (klops), peito de ganso defumado, pato capado ou guisado de tripas (Soester Wamme), todos eles sempre acompanhados de beterraba e repolho. Muito repolho. O 'Paciente A' era tarado em chucrute. Imagina, leitor (a), o resultado da mistura de cerveja com repolho e beterraba!

Esse tipo de alimentação marcou o comportamento do chanceler alemão. Na hora de escrever, por exemplo, Hitler tinha uns tremeliques parecidos ao mal de Parkinson. Suas explosões de cólera eram atribuídas às insônias, úlceras e dores gástricas. "Padecia de flatulências muito frequentes". Ou seja, o führer vivia 'balançando a roseira'. Mas essa linguagem poética sou eu que estou usando, para não te chocar, leitor (a), porque no seu diário, o doutor Morell diz, com todas as letras, que Hitler era um 'lâcheur de vents' de acordo com a tradução francesa, ou seja, trocando em miúdos, um tremendo peidão.

Morell se queixa que Hitler, sem consultá-lo, se automedicava, em vão, tomando grande quantidade de pílulas tipo Malox e Luftal, para tentar controlar as ventosidades. Tivesse ele tomado outros remédios, talvez a guerra terminasse de forma diferente. Os puns de Hitler eram tão frequentes e fedorentos - segundo o diário - que uma tese de doutorado poderia provar a sua influência sobre os bombardeios da Força Aérea Alemã durante a segunda guerra mundial.

O DENDÊ NO ACARAJÉ

O ACM é uma espécie de Hitler baiano, com o repolho perfumado, no entanto, pelo azeite de dendê. O seu comportamento político pode ser explicado através do Método Morell, cuja aplicação, no caso, exige as informações proporcionadas por sua cozinheira Aldaci dos Santos - a Dadá. Ex-vendedora de rua, Dadá tornou-se dona do restaurante 'O Tempero da Bahia', que prepara a comida do Toninho Malvadeza. Ela deu todo o serviço: ACM come prá cacete. Traça efó, caruru, badofe, vatapá, bobó, abará, acarajé, tudo isso temperado com muito, mas muito mesmo, azeite de dendê e leite de côco.

O resultado desse tipo de alimentação é aquela barriga proeminente, com morfologia de pera, responsável por um comportamento autoritário, colérico, arrogante, prepotente, que pode ser observado até no jeito de ACM andar, tipo pinguim, com as pernas meio abertas. Quando ele se desloca, balançando os braços, os pés marcando dez para as dez - é só ver as imagens da televisão - os seguranças guardam uma distância prudente, porque ACM, como Hitler, é um tremendo 'lâcheur de vents'. ACM, pelo seu porte e jeitão, 'balança a roseira' com barulho e estardalhaço. Daí o seu temperamento explosivo e bombástico. 

Isso significa que a única possibilidade do Conselho de Ética cassar ACM pelo crime de violação do painel do Senado é seguir o exemplo dos leões africanos quando caçam as zebras. Recentemente, o Discovery Channel TV-A exibiu o programa 'África Indomável' mostrando que os leões só conseguem caçar as zebras quando correm contra o vento, por um motivo muito simples: a zebra, com o perdão da palavra, peida muito, o que possibilita que o leão siga o seu rastro aéreo e aí - crau!.

O leão Saturnino Braga, relator do processo de violação do painel do Senado, deve seguir o rastro do senador baiano, correndo contra o vento, para poder cassá-lo. 

O TUCUPI NO AÇAI 

Dona Tomásia, cozinheira de Jáder Barbalho, confessou que ele adora comer, discretamente, caldeirada de vísceras de pirarucu, uma receita dos boiadeiros da Ilha do Marajó. Ele traça, além disso, frigideira de camarão, sopa de tartaruga com castanha do Pará, casquinha de muçuã, maniçoba, pato no tucupi e coxinha de rã, alimentada com verbas da Sudam. Aos domingos, não dispensa o seu tacacá. Tudo isso com pitadas de tucupi e de pimenta murupi.

O resultado desses condimentos deu ao senador paraense esse olhar meio morto, de tucunaré de geladeira. O jambu parece ser responsável pela queda de seus cabelos, proporcionando-lhe uma discreta calvície, escondida detrás dos fios de cabelos pintados com cor de açaí desbotado. Exatamente porque come o que come, Jáder - ele também - é um tremendo 'lâcheur de vents', só que o faz silenciosamente, ainda que segundo testemunhas olfativas, suas manifestações são ardentes e cintilantes. Daí o seu temperamento reservado, recatado, que o faz agir em surdina, por baixo dos panos. Barbalho é o popular come-quieto.

O acordo de ACM e Jader Barbalho, culinariamente falando, implica uma mistura de azeite de dendê com tucupi na política brasileira - fórmula altamente explosiva e de gosto duvidoso, presente na pizza que eles querem nos obrigar a engolir. Se você não quiser comer pizza com dendê e tucupi, proteste contra essa barganha indecente que transformou o Congresso Nacional num balcão de negócios, sob a batuta do FHC. Compareça à vigília cívica contra a corrupção, na Praça do Congresso, organizada pela Coordenação das Pastorais Sociais da Arquidiocese de Manaus (Padre Humberto Guidotti), OAB-Am (Oldeney Valente) e Corecom-Am (J. Botelho). Grite: Xô, corrupção!

P.S - O leitor pode muito bem aplicar o Método Morell para avaliar o comportamento das autoridades locais, incluindo o governador Amazonino Mendes, que por puro populismo, toma diariamente uma cuia de açaí preparado ou pelo 'Rei do Açaí' de Raimunda Caldas, na feira coberta da Betânia ou pela 'Açailândia' do Morro da Liberdade. Nos dois casos, foi constatado a presença de 110 coliformes fecais por grama.

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