CRÔNICAS

Queixas ao Papa: o Belão não presta, Santidade

Em: 06 de Maio de 2007 Visualizações: 8104
Queixas ao Papa: o Belão não presta, Santidade
Ao Papa Bento XVI
 
Santidade,
 
Saudações! Escrevo essa carta (mas não repare os senões) para dizer o que sinto sobre a Assembleia Legislativa do Amazonas e me queixar de seu presidente. No Brasil, diante de situação desesperadora na qual não se tem mais a quem recorrer, é costume se dizer: “Vai te queixar ao bispo”. Pensei em procurar Dom Luiz, um pastor que cuida bem de suas ovelhas. Mas já que o chefe dele e de todos os bispos anda por essas bandas, aproveito essa humilde missiva para registrar aqui a reclamação.
 
Começo apresentando a Vossa Santidade o presidente da Assembleia Legislativa, Belarmino Lins, conhecido no Alto Solimões como Belão e, nos hotéis de Miami onde costuma passar férias, como Big Beautiful. No entanto, como ele é descendente de alemães, conforme declarou negando qualquer traço indígena, Vossa Santidade poderá usar a língua materna de ambos e chamá-lo de Grosse-Schön. A não ser que queira usar o latim, língua oficial do Vaticano e tratá-lo como Bellus Magnus.
 
Meu pirão
 
O Big Beautiful, às vésperas do Dia do Trabalhador, criou a “Resolução Farinha Pouca” que libera uma verba indenizatória de R$ 11.150,00, diz-que para ressarcir mensalmente cada deputado das despesas com aluguel, consultorias, locomoção e divulgação. A “Resolução Meu Pirão Primeiro” já previa a cota-transporte no valor de R$12.540,00 para crédito em passagens áreas, fluviais e fretes, para a qual não há necessidade de prestação de contas. Tem ainda R$23.460,00 de salário e os jetons por sessões extras.
 
Somando salários e benefícios, os deputados abocanham mensalmente R$47.150,00, dez vezes mais do que ganha um cardeal no Vaticano. Faça as contas, Santidade. No Amazonas, existem 24 deputados. Se cada um, numa legislatura, ganha cerca de R$2,4 milhões, isso representa um rombo aproximado de R$57,6 milhões nos cofres públicos. Quem assinou a resolução que permite essa mamata foi o Big Beautiful e os membros da Mesa Diretora. Anote os nomes deles, Santidade: Marcos Rotta, Wallace Souza, Josué Neto, Conceição Sampaio, Edílson Gurgel e Vicente Lopes.
 
São quase 60 milhões de reais. Quantas escolas, hospitais e tubulação de esgoto se poderia fazer com essa grana? Se os deputados, pelo menos, pagassem o dízimo segundo o costume, quase seis milhões de reais sobrariam para as igrejas. Mas é tudo mão-de-vaca, não pagam dízimo, baixando o índice do Amazonas no cenário nacional, conforme foi divulgado ontem pelo IBGE. O que fazem pode até ser legal, porque são eles que fazem as leis. Mas é imoral, e mancha suas reputações.
 
Segundo o papa João XXIII “peccator appelandum est cum mala fama lucrum”, que o professor Agenorum traduziria como “quem lucra à custa da má reputação é pecador”. Portanto, o Big Beautiful e seus cúmplices são grandes pecadores. Seus pecados são daqueles que clamam aos céus e pedem a Deus vingança.
 
O Big Beautiful acha que o Estado pertence à sua família e existe para dar empregos aos seus parentes e xerimbabos. O Tribunal de Contas, conhecido como Tribulins, é uma prova disso. Os Lins têm orgasmos cósmicos, quando ouvem a simples menção da palavra “emprego”. São obcecados por arrumar boquinhas para a família. Agora mesmo, o mano Átila Lins, depufede (PMDB – vixe!) garante em outdoors pela cidade que salvou 55 mil empregos. Não sabíamos que a família Lins era tão grande assim.  
 
Fioforum cotiae
 
O que fazer, Santidade, para combater tanta imoralidade? Procurar o Poder Judiciário? Como diria o saudoso Fábio Lucena, que se amarrava num latinorum, “hic culum cotiae sibilare”, ou seja, é aqui que o fiofó da cutia assovia. Há meses o Ministério Público Estadual abriu uma investigação, mas ninguém sabe no que deu. O povo não acredita mais na justiça ministrada pelo Estado, vendo no noticiário nacional que há juizes que vendem sentenças, e os que não vendem não tem coragem de punir seus colegas.
 
Segundo denúncias do ex-governador Amazonino Mendes, em entrevista à Rádio Nova Olinda, em julho de 2006, durante a campanha eleitoral, “no Amazonas se compra juízes, desembargadores e procuradores”.  Como é que uma autoridade, que foi prefeito, senador e governador duas vezes, fala um negócio desses e fica por isso mesmo? É tudo farinha do mesmo paneiro, ou para usar uma linguagem que Vossa Santidade entende, “ejusdem farinae mandiocae paneirorum”.
 
Santidade, essa queixa é feita “ex imo pectore” a quem representa nossa última esperança. Espero que sejam tomadas as devidas providências. Sugiro que Vossa Santidade, com autoridade do trono de São Pedro, aconselhe Big Beautiful, os deputados amazonenses e todos os seus parentes a devolverem a grana recebida indevidamente em todos os empregos municipais, estaduais e federais. Diga a eles que se não fizerem isso, serão excomungados e, quando morrerem, irão para o inferno.
 
Desculpe-me a intromissão, Santidade, mas acho que em vez de ficar preocupado com os casais divorciados, a camisinha, as bibas, o casamento de gays, a existência do limbo e outras mumunhas, Vossa Santidade devia puxar a orelha de deputados venais, de juízes corruptos e do povo passivo que a tudo assiste sem nada fazer.
 
P.S. 1 - Marcus Barros saiu do IBAMA, para onde nunca devia ter ido, e foi convidado pelo prefeito Serafim Corrêa a assumir a Secretaria Executiva da Prefeitura Municipal. A população de Manaus, beneficiada com e escolha do novo secretário, agradece a rapidez no gatilho do prefeito Serafim, bem como ao presidente Lula da Silva e à ministra Marina da Silva por abrirem mão de um quadro tão competente.  
 
P.S. 2 – Hoje, com o segundo turno das eleições presidenciais, a França vive um momento crucial de sua história. Os institutos de pesquisa indicam que Nicolas Sarkozy (UMP- vixe, vixe, quelle horreur!) ganhará da socialista Ségolène Royal (PS), mas eu só acredito depois que o último voto for contado. A amazonense  Marilza Mello, caboca de Boca do Acre, filha do Mário Diogo e prima do poeta Thiago de Mello, faz parte do Comitê de Apoio a  Ségolène. Ela é casada com um francês e vive há anos em Paris.
 
P.S. 3 – O início dessa crônica copia “A Carta”, música de Waldick Soriano, a quem a família penhorada agradece.

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